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“Oscar da diversidade”: diversidade e inclusão na premiação

O Oscar desse ano, que aconteceu no último domingo, vem sendo chamado de “Oscar da diversidade”, não só pelas pautas e temas de seus filmes, que abordavam a questão da pessoa com deficiência, racismo, violência contra a mulher, desafios da velhice, mas também pela diversidade de atores, diretores e outras pessoas da produção cinematográfica que eram de diferentes culturas, países, grande representatividade negra e feminina (principalmente se comparada aos anos anteriores) e pessoas de todas as idades.

É importante lembrar que há 6 anos atrás, a hashtag #OscarsSoWhite, criticava justamente a falta de representatividade dos selecionados ao prêmio perante a população mundial.

Desde então, a academia prometeu uma maior representatividade nas próximas edições, promovendo reformas. Inclusive um dos destaques dessa premiação foi que a categoria “Filme estrangeiro” passou a ser chamada de “Filme internacional”, uma mudança singela, porém muito simbólica, já que o termo “estrangeiro” remetia a aquilo que era “estranho ao país”, enquanto o temo “internacional” valoriza as demais culturas em comparação a produção norte estadunidense.

A seguir, segue a lista de filmes que foram indicados e premiados ao “Oscar da diversidade” e que a TREE Indica.

Lista de vencedores ao “Oscar da diversidade”

Meu pai (2020)

Vencedor: Melhor ator ( Anthony Hopkins), Melhor Roteiro Adaptado.

Indicado: Melhor filme, Melhor atriz coadjuvante ( Olivia Colman), Melhor Direção de Arte, Melhor montagem.

Sinopse: Anthony tem 81 anos de idade. Ele mora sozinho em seu apartamento em Londres, e recusa todos os cuidadores que sua filha, Anne, tenta impor a ele. Mas isso se torna uma necessidade maior quando ela resolve se mudar para Paris com um homem que conheceu há pouco, e não poderá estar com pai todo dia. Fatos estanhos começam a acontecer: um desconhecido diz que este é o seu apartamento. Anne se contradiz, e nada mais faz sentido na cabeça de Anthony. Estaria ele enlouquecendo, ou seria um plano de sua filha para o tirar de casa?

Esse, que originalmente era uma peça de teatro, foi um dos filmes mais aclamados do “Oscar da diversidade”, tendo como protagonistas da obra atores de 50+, o filme fala sobre o envelhecimento, doenças e a relação da família com os idosos. Um filme que provoca empatia ao telespectador e faz refletir sobre nossas relações com familiares.

Felizmente, o ator Anthony Hopkins, que atuou com brilhantismo, foi premiado aos 83 anos de idade.

Disponível no Youtube.

Minari (2020)

Vencedor: Melhor atriz coadjuvante (Yoon Yeo-jeong).

Indicado: Melhor filme, Melhor ator (Steven Yeun),  Melhor Diretor (Lee Isaac Chung), Trilha Sonora Original, Melhor Roteiro Original.

Sinopse: Uma família coreano-americana se muda para uma fazenda no Arkansas em busca de seu próprio sonho americano. Em meio aos desafios dessa nova vida, eles descobrem a inegável resiliência da família e o que realmente faz um lar.

Trata-se de uma produção norte-americana, mas com maior parte do grupo de atores coreanos. No último ano, o filme “Parasita” fez com que a produção cinematográfica desse país tenha ganhado espaço e admiração da Academia. Nesse roteiro vem à tona os problemas enfrentados por imigrantes, o processo de adaptação á uma nova cultura, nova língua e os preconceitos sofridos. Um filme sensível que valoriza a família e prega o reconhecimento de nossas origens. Em uma das cenas cômicas do filme, vemos a fala do filho mais novo dizendo que a avó, recém-chegada na casa, que ela “fede a Coreia”, fazendo uma analogia àqueles  que se afastam de seus antepassados e passam a reproduzir preconceitos.

Em exibição nos cinemas.

O som do silêncio (2020)

Vencedor: Melhor edição e mixagem de som, Melhor montagem.

Indicado: Melhor Filme, Melhor ator (Riz Ahmed), Melhor ator coadjuvante (Paul Raci), Melhor roteiro Original.

Sinopse: A vida de um jovem baterista muda totalmente quando ele percebe que está perdendo a audição. As suas duas grandes paixões estão em jogo: a música e a sua namorada, integrante da mesma banda de heavy metal que ele faz parte.

Um filme imperdível do “Oscar da diversidade” é “The sound of metal”, traduzido para o português como o “Som do silêncio”. Um filme que leva a fundo a temática da inclusão, ou melhor, da autoaceitação. O filme exemplifica com clareza a realidade de crianças e adultos surdos, mostrando como ocorre a socialização, a realidade nas escolas e o processo de autoestima e descobrimento. Em um dos diálogos mais bonitos do filme o ator Paul Raci, coordenador da comunidade surda, conversa através da língua de sinais e diz “Todos nós aqui compartilhamos a crença de que ser surdo não é uma deficiência, não é algo para consertar.”

Também é importante comentar que Riz Ahmed é o primeiro muçulmano a concorrer na Categoria Melhor Ator no Oscar.

Disponível na Amazon Prime.

Personagem principal tocando bateria sem camiseta.

Nomadland (2020)

Vencedor: Melhor Filme, Melhor Diretor ( Chloé Zhao), Melhor atriz (Frances McDormand).

Indicado: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor fotografia, Melhor montagem.

Sinopse: Uma mulher na casa dos 60 anos que, depois de perder tudo na Grande Recessão, embarca em uma viagem pelo Oeste americano, vivendo como uma nômade moderna.

Pela primeira vez, após outras 92° edições, foram indicadas à estatueta de melhor direção duas mulheres, sendo uma delas a chinesa Chloé Zhao, que foi vencedora na categoria por Nomadland.

Um filme que fala sobre empatia, e que nos faz refletir sobre vários assuntos, como os trabalhos temporários e suas precarizações, o acesso a moradia nos Estados Unidos (realidade difícil também em muitos outros países) e a velhice.  Para esse personagem, a atriz, que inclusive recebeu a estatueta, não esconde suas rugas e afirma que no cinema (e em lugar nenhum), a idade deve ser um impedimento para realizar um bom trabalho.

É importante que não só a trama, mas também o elenco, seja diverso para a produção de um filme real, esse foi um belo exemplo de interseccionalidade na produção cinematográfica.

Em exibição nos cinemas.

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Bela Vingança (2020)

Vencedor: Melhor Roteiro Original.

Indicado: Melhor filme, Melhor atriz (Carey Mulligan), Melhor Diretor (Emerald Fennell), Melhor Montagem.

Sinopse: Nada na vida de Cassie é o que parece ser. Ela é perversamente inteligente, tentadoramente astuta e ainda vive uma vida dupla secreta à noite. Agora, um encontro inesperado está prestes a dar a Cassie a chance de corrigir os erros do passado.

Essa obra, assim como Nomadland, traz em sua produção a diversidade, uma vez que ainda é recente a indicação de mulheres diretoras ao prêmio. O filme trata de um assunto complicado e pouco dito na indústria dos filmes: a violência sexual e as decorrências na vida de uma mulher após esse abuso. O filme nos anseia a buscar por justiça para todas as vítimas que sofreram casos parecidos com o da melhor amiga da personagem principal. Um tema urgente e que precisa ser mais discutido. É preciso pôr um ponto final em todos os casos de violência a mulher.

Judas e o messias negro (2021)

Vencedor: Melhor ator coadjuvante ( Daniel Kaluuya).

Indicado: Melhor filme, Melhor ator coadjuvante (Lakeith Stanfield), Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia.

Sinopse: Oferecido um acordo judicial pelo FBI, William O’Neal se infiltra nos Illinois dos Panteras Negras para reunir informações sobre o presidente Fred Hampton.

O filme indicado ao “Oscar da diversidade” possuí mais de 50% do elenco negro, essa é uma obra que fala sobre os ataques e um triste capítulo da história americana e da luta por igualdade racial e social nos Estados Unidos. Abordando temas como racismo institucional e estrutural e a história do grupo Panteras Negras.

Em exibição nos cinemas.

A voz suprema do blues (2020)

Vencedor: Melhor maquiagem e penteado, Melhor figurino.

Indicado: Melhor ator ( Chadwick Boseman), Melhor atriz (Viola Davis), Melhor Direção de arte.

Sinopse: Na Chicago de 1927, uma sessão de gravação do álbum de Ma Rainey é mergulhada em tensão entre seu ambicioso trompista Levee e a gerência branca que está determinada a controlar a incontrolável “Mãe do Blues”. Porém, uma conversa no local revela verdades que irão abalar a vida de todos.

Esse filme traz diversidade e inclusão em suas origens, contextualizado na década de 20, o racismo é tratado em todas as suas formas, desde o estrutural até a discriminação direta. Os personagens, todos negros, precisam viver conflitos duplos, que vão desde a ascensão e valorização de suas carreiras,  até serem considerados e respeitados enquanto pessoas. O filme traz cenas fortes sobre ódio racial, como por exemplo o constrangimento dos personagens ao entrarem em um restaurante e serem as únicas pessoas negras do lugar, sendo encarados por todos. É interessante ressaltar que o elenco é de maioria negra e concorreu inclusive ao que seria um Oscar póstumo ao excelente Chadwick Boseman (que também estrelou o super herói negro e afrofuturista Pantera Negra). Um filme que fala sobre a injusta indústria da música, o surgimento do blues e muitas outras questões sobre a população afro-americana.

Disponível em Netflix

Cantora Ma Rainey e trompista Levee ambos de roupa azul.

Soul (2020)

Vencedor: Melhor filme de animação, Melhor Trilha Sonora Original.

Sinopse: Joe é um professor de música do ensino médio apaixonado por jazz, cuja vida não foi como ele esperava. Quando ele viaja a uma outra realidade para ajudar outra pessoa a encontrar sua paixão, ele descobre o verdadeiro sentido da vida.

Como mudança de estigmas na Pixar, vemos o surgimento de mais personagens negros, entre eles, o carismático Joe do filme Soul. Um filme que nos faz aprender mais sobre a cultura afro-americana e o surgimento do jazz, além de refletir sobre nosso sentido na vida e tudo aquilo que é importante, reconhecendo nossa história e habilidades. Não poderia estar de fora do “Oscar da diversidade”, uma animação para assistir com toda a família!

Disponível em Disney+

Lista de indicados ao “Oscar da diversidade”

Pieces of a Woman (2020)

Indicado: Melhor atriz ( Vanessa Kirby).

Sinopse: Um parto complicado em casa deixa uma mulher às voltas com profundas consequências emocionais, isolada de seu parceiro e de sua família por um abismo de tristeza.

Essa obra aborda o tema da gravidez com uma temática intensa. Além disso discute-se também questões de saúde mental e depressão. Do ponto de vista da diversidade e inclusão, aborda-se a questão do papel feminino na sociedade, desejos e realizações. Destaca-se a atuação feminina da atriz Vanessa Kirby.

Disponível em Netflix

O tigre branco (2021)

Indicado: Melhor roteiro adaptado

Sinopse: Um ambicioso motorista indiano utiliza a inteligência e astúcia para escapar da pobreza e ascender no mundo dos negócios.

Para além do conhecido filme “Quem quer ser um milionário?”, que também foi vencedor do Oscar em edições anteriores, o “Oscar da diversidade” desse ano trouxe outro filme de origem indiana muito mais representativo e com uma realidade mais dramática. O filme “O tigre branco” retrata a trajetória de vida Balram Halwai, um empreendedor que durante sua vida enfrentou inúmeros preconceitos relacionados com o antigo sistema de castas que prevalecia pelo país distribuindo privilégios e funções entre a população da Índia. Além disso, o filme trata de um outro tema de diversidade, o respeito a diferentes religiões. Um filme que nos faz refletir sobre outras culturas e sobre a classe trabalhadora em todo mundo. A nossa torcida é para que a indústria de “bollyhood” seja cada vez mais reconhecida e aclamada, assim como outras produções de cinemas regionais.

Disponível em Netflix