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O que são vieses inconscientes e quais são os tipos mais comuns no ambiente corporativo?

As nossas atitudes e pensamentos são, grande parte das vezes, guiadas por padrões mentais sistemáticos e não por julgamentos racionais. E isso está diretamente ligado à exclusão social de grupos minorizados e à discriminação étnico-racial, de classe, de gênero, de orientação sexual, de pessoas com deficiência etc. Logo, para promover a inclusão e a diversidade, precisamos, primeiramente, compreender o que são vieses inconscientes.

Você já se deparou com situações nas quais tinha todos os argumentos lógicos para escolher uma determinada alternativa, mas a sua “intuição” apontava para outra direção? A nossa mente funciona por meio de associações e nem sempre trabalha de forma lógica com as informações relevantes disponíveis. É por isso que episódios como esse — e decisões equivocadas — acontecem frequentemente.

Isso ocorre, a todo o momento, em seleções para vagas de trabalho, por exemplo. Ao se deparar com dois currículos muito semelhantes de uma pessoa branca e outro negra, ou de um candidato homem e uma candidata mulher, mesmo que estes dois últimos tenham mais competência para o cargo, é mais provável que o recrutador selecione a pessoa branca e o homem.

E isso não significa que ele deliberadamente pensou que, por ser homem ou por ser branca, essa pessoa seria melhor para assumir as responsabilidades daquele trabalho. Na verdade, ao fazer um julgamento automático, ele agiu “sob controle” dos preconceitos incorporados que carrega — assim como todos nós.

Para compreender melhor como isso acontece e como podemos combater esse comportamento e minimizar os seus efeitos, neste artigo vamos explicar o que são vieses inconscientes. Além disso, para ilustrar situações em que se manifestam, vamos falar também sobre aqueles que são os mais comuns no ambiente corporativo.

O que são vieses inconscientes?

Vieses inconscientes são preconceitos incorporados no nosso dia a dia, baseados em toda nossa bagagem de aprendizado e vivências, em estereótipos de gênero, raça, classe, orientação sexual, idade etc. Tais preconceitos (naturalizados pelo nosso cérebro) se materializam como padrões de ações e julgamentos sociais que se repetem de forma automatizada com base no pensamento coletivo e em nossas experiências prévias individuais

Trata-se, portanto, de generalizações baseadas em estereótipos de raça, classe, etnia, idade, gênero, orientação sexual e outros. Elas existem porque, ao pensar, fazemos julgamentos automáticos que derivam de associações armazenadas na nossa memória. Essas crenças foram incorporadas sem que nos déssemos conta e ditam o nosso comportamento de forma quase que “natural”.

O psicólogo e vencedor do Nobel de economia Daniel Kahneman foi um dos estudiosos que contribuíram para o entendimento dos viéses. Ele notou que o pensamento automático é, em muitas ocasiões, crucial para a nossa sobrevivência. Contudo, em outros momentos, esse mecanismo intuitivo nos leva a raciocínios deliberados e decisões erradas.

É importante notar que todos nós somos “enviesados”, ou seja, suscetíveis aos vieses, pelo simples fato de sermos humanos. No entanto, ao sabermos o que são vieses inconscientes, podemos ficar atentos para identificar raciocínios e situações do nosso dia a dia em que esses preconceitos estão a comandar nosso pensamento ou postura.

Quais as suas consequências e por que precisamos combatê-los?

Cabe, ainda, acrescentar à resposta sobre o que são vieses inconscientes o fato de que essas crenças afetam todas as nossas relações. Além disso, esses julgamentos de um indivíduo costumam ser a favor ou contra algo, uma pessoa ou um grupo. E nesse sentido, geram condutas tendenciosas que reafirmam estereótipos, desigualdades, discriminações e preconceitos.

Vamos fazer um exercício simples: ao pensar em uma pessoa bem-sucedida profissionalmente, qual é a imagem que lhe vem à mente? A “imagem padrão” que a imensa maioria terá para um profissional desse tipo não corresponde àquela de uma mulher, negra e mãe, não é mesmo?

O exemplo nos mostra como os vieses inconscientes impactam em vários aspectos da sociedade e um deles é, inevitavelmente, o mercado de trabalho. Eles estão por trás da desigualdade no acesso a oportunidades profissionais, por exemplo, e, portanto, é impossível falar de diversidade e inclusão nas empresas sem conhecer um pouco mais a fundo esse tema.

Quais os tipos de vieses inconscientes mais comuns no ambiente corporativo?

Para identificar e combater esses vieses, é crucial saber de que forma eles se manifestam no ambiente corporativo. Recrutamento e seleção, retenção da força de trabalho, promoções, liderança, desenvolvimento de pessoal, atendimento ao cliente e avaliação de desempenho são alguns aspectos nos quais existem vieses nas organizações.

Por isso, vamos descrever e exemplificar aqui os principais tipos de vieses inconscientes presentes no contexto empresarial.

Viés da afinidade

Um dos vieses mais comuns refere-se à preferência de um indivíduo por pessoas que sejam mais parecidas com ele no que diz respeito à aparência, atitude, religião, background etc. Esse padrão faz com que tenhamos uma tendência a avaliar melhor as pessoas que mais se parecem conosco.

Ao promover uma pessoa da equipe, por exemplo, muitos gestores escolhem automaticamente o colaborador mais parecido com eles — com o mesmo formato de liderança, mesma formação etc. —, em vez de analisar racionalmente as informações lógicas que deveriam embasar a decisão.

Viés do estereótipo

Diz respeito aos julgamentos de um indivíduo pertencente a um determinado grupo sobre uma pessoa que pertence a um outro grupo com base em generalizações e não nas qualidades e atributos específicos da pessoa em si.

Ele está presente, por exemplo, quando se exclui a possibilidade de contratação de um homem para uma posição que exige cuidado e sensibilidade. Tal decisão é baseada no julgamento de que os homens, em geral, não são afetuosos e as mulheres, todas, são.

Viés da aparência

Quando julgamos uma pessoa com base em padrões de beleza ou outros aspectos físicos, nosso comportamento reflete o viés da aparência. Pensamentos como “fulana não se veste bem, melhor não a levar à reunião” ou “ele parece muito desleixado e não causa boa impressão” são exemplos disso.

Viés da maternidade

Está relacionado aos julgamentos dos indivíduos sobre mulheres que se tornam mães — e que podem prejudicá-las. Esses preconceitos têm como base crenças coletivas de que a maternidade afeta a mulher, incluindo a sua produtividade e a sua capacidade de comprometimento.

Um exemplo típico desse viés no mercado de trabalho é a decisão por adiar a promoção de mães com filhos pequenos a cargos mais altos. Essa atitude costuma ser fundamentada em crenças como “essa mulher não vai querer viajar, porque não tem com quem deixar a criança”.

Viés da confirmação

Por fim, o viés da confirmação é aquele que nos induz a buscar automaticamente fatos que confirmem as nossas crenças pré-estabelecidas em vez de considerar informações realmente relevantes.

Para ilustrar: ao ver no currículo de um candidato que ele esteve em vários empregos por curtos períodos, o recrutador o descarta porque, automaticamente, acredita se tratar de uma pessoa pouco comprometida.

Identificar o que são vieses inconscientes é fundamental para combatê-los

A resposta sobre o que são vieses inconscientes deixa muita gente na defensiva, pois é realmente difícil admitir que todos nós, de alguma forma, fazemos, sim, julgamentos em relação às outras pessoas. No entanto, para combater esse tipo de pensamento, o primeiro passo é parar de negá-los e admitir que eles existem.

Só assim será possível identificar atitudes enviesadas em nós mesmos e nas organizações e, assim, agir para evitá-las. Eliminar completamente esses vieses é muito difícil, afinal, eles são da natureza humana, mas podemos, com certeza, minimizar os seus efeitos.

Nesse sentido, é fundamental, durante a implantação de programas de Diversidade e Inclusão, por exemplo, realizar com as equipes práticas ou dinâmicas que proponham reflexões a respeito dessas crenças incorporadas.

Para termos um mercado de trabalho realmente diverso e inclusivo, precisamos fazer o exercício diário de fugir do pensamento fácil e automático, sair da zona de conforto, e passar a questionar sempre a nossa primeira impressão sobre alguém. A empatia e a aproximação também são grandes armas contra os vieses inconscientes e não só podem — devem — ser utilizadas o máximo possível em todos os âmbitos das nossas vidas.