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O que é o movimento Afrofuturista?

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O filme Pantera Negra (2018) foi um fenômeno cultural. Estreou entre as maiores bilheterias da história, contou com aclamação da crítica e quebrou inúmeras barreiras, se tornando, inclusive, o primeiro filme exibido nos cinemas da Arábia Saudita em mais de 35 anos.

Mais do que um blockbuster, o filme foi responsável por apresentar ao grande público – o mainstream – o termo Afrofuturismo, termo que antes estava restrito a alguns círculos de discussão.

O termo vai muito além de um gênero artístico. Ele é um movimento estético e social que apresenta uma narrativa para questionar os eventos históricos do passado, como a escravidão, e construir um novo futuro no qual os negros estão presentes em sua máxima potência.

O termo vai muito além de um gênero artístico. Ele é um movimento estético e social que apresenta uma narrativa para questionar os eventos históricos do passado, como a escravidão, e construir um novo futuro no qual os negros estão presentes em sua máxima potência.

A ausência de pessoas negras na cultura e representação.

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Observe acima os dez posters de filmes ou animações futuristas lançados nos últimos 20 anos. Você observa algo em comum?

Em todos eles não há a presença de pessoas negras, como narrativas, cosmologias e ou contribuições do continente africano não existem e/ou são realizadas de forma negativada, estereotipadas. 

Onde estão os negros nos futuros idealizados pelos filmes? Foi a partir desse questionamento que o cinema Afrofuturista centrou sua principal crítica. É o caso de filmes como Pantera Negra (2018), Black is King (2020) – o filme visual de Beyoncé, Fahrenheit 451 (2018) e outros. 

A busca por tal representatividade é embasada pelo relatório da Universidade da Califórnia, que apontou que os negros  representaram apenas 13,6% do elenco dos filmes de maior bilheteria em 2017. 

A Negação do Brasil

Para entender mais a fundo a representação no negro na dramaturgia brasileira, o documentário ‘A Negação do Brasil’ apresenta uma viagem na história da telenovela e,  particularmente, uma análise do papel nelas atribuído aos atores negros, que sempre representam personagens mais estereotipados.

A origem do termo Afrofuturismo

A primeira vez que o termo foi utilizado foi em 1994, no ensaio “Black to the Future”, com entrevistas realizadas com intelectuais negros da época: o escritor Samuel Delany, o escritor e músico Greg Tate e a crítica cultural Tricia Rose.

O ensaio questionou o motivo do número tão baixo de ficção científica produzida por autores negros. Desde então, o termo passou a servir como um guarda-chuva para expressões artísticas produzidas por autores negros, como cinema, música, literatura e teatro, para temas que se conectem com o futurismo, a distopia, a fantasia e o realismo fantástico. 

Embora tenha sido utilizado pela primeira vez em meados da década de 90, o movimento já dava seus primeiros passos muitos anos antes. É o caso dos romances publicados pela autora estadunidense Octavia Butler nos anos 70, ou até mesmo das músicas de Gilberto Gil dos anos 60 no Brasil, como Cérebro Eletrônico (1969) e Lunik 9 (1967). 

Sun Ra e o Space Is the Place

Entretanto, o pioneiro do movimento foi Sun Ra, cantor de Jazz que trouxe à tona debates importantes. Ele, além de ser pioneiro do Afrofuturismo, é também um filosofo cósmico que buscava levar os negros para um espaço onde eles não fossem mais oprimidos ou massacrados.  

Segundo ele, em uma noite no final dos anos 1930, em Huntsville, Alabama, um feixe de luz desceu do céu e o ergueu para uma espaçonave alienígena. Em uma viagem a Júpiter, foi induzido pelo grupo que o abduziu a transportar os negros para longe da violência e do racismo do planeta Terra.

Herman “Sonny” Blount, então, passa a se chamar Sun Ra, músico que criou uma banda e fez parte do cenário cultural americano dos anos 70 – chegou até a participar do tradicional Saturday Night Live. 

Em seu filme de 1973, Space is the Place, ele recruta cidadãos negros de Oakland para participar de seu programa espacial. O filme é considerado uma das principais obras futuristas da época. 

O Afrofuturismo, portanto, traz uma perspectiva utópica e positiva para a comunidade negra. É um movimento em movimento. Muito mais que uma estética da moda, Afrofuturismo é, acima de tudo, o poder nas mãos de pessoas negras, que se baseia no conceito de afrocentricidade, com autoconscientização de pessoas Negras como agentes atuando sobre sua própria imagem cultural e de acordo com seus próprios interesses humanos e, é claro, ser uma ficção especulativa. 

“A Afrocentricidade é um tipo de pensamento, prática e perspectiva que percebe os africanos como sujeitos e agentes de fenômeno atuando sobre a sua própria imagem cultural e de acordo com seus próprios interesses humanos.”

(ASANTE, 2009)

Afrofuturismo, um movimento em movimento

“Afrofuturismo é recriar o passado, transformar o presente e projetar um novo futuro, através da nossa própria ótica”.

É o que diz Fabio Kabral, um dos principais expoentes do Afrofuturismo brasileiro. 

O autor de livros Afrofuturistas como “O Caçador Cibernético da Rua 13” , “Ritos de Passagem “ e “A Cientista Guerreira do Facão Furioso”, fala no TedxTalk acima sobre o movimento e como ele se encaixa na realidade brasileira. 

Segundo ele, o Afrofuturismo recupera valores de povos africanos historicamente subjugados (como a ancestralidade, a mitologia, os conhecimentos tecnológicos e científicos), para criar novas possibilidades de futuro para a comunidade, inserindo a estética negra no que é considerado moderno, futurista, belo e desejável. 

Características fundamentais das narrativas Afrofuturistas

Fábio Kabral definiu quatro características fundamentais para narrativas Afrofuturistas. São elas: protagonismo de personagens negros, narrativa de ficção especulativa, afrocentricidade, autoria negra. Saiba mais no infográfico abaixo (conteúdo elaborado por Fábio Kabral). 

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Revisitar o passado e reformular o presente e futuro

Como vimos acima, o movimento busca revisitar o passado e reformular o presente e o futuro.

No caso do Brasil, nosso presente é fruto de um processo de abolição inacabada. Como foi nosso pós abolição?Entenda mais a fundo como foi esse momento, a partir de um olhar sobre o mundo do trabalho. É o que você confere nesta conversa com o Professor Doutor Ramatis Jacino.

Afrofuturismo: a potência negra no mundo do trabalho e na cultura

Este foi o tema de uma das edições da Plural, a newsletter mensal de DE&I da TREE. Assine e receba gratuitamente todo mês em sua caixa de entrada! 

Acelerando carreiras para um AFROfuturo!

Em novembro de 2021 disponibilizamos de forma gratuita a 2ª edição da Trilha de Desenvolvimento para Talentos Negros. Este ano o tema foi “Acelerando carreiras para um AFROfuturo”.  

O programa acontece de forma virtual em quatro encontros, e visa oferecer ferramentas práticas e direcionadas ao mercado de trabalho para que pessoas negras possam se inserir e permanecer de maneira próspera no mundo do trabalho.

Acompanhe o blog da TREE e fique de olho nas próximas oportunidades.