Em 2021 uma pesquisa da consultoria PageGroup e da Fundação Dom Cabral, entrevistou 149 CEO’s e mostrou que 90% desse público são homens e brancos. Ou seja, há um número extremamente pequeno de mulheres, pessoas negras, LGBTI+ e Pessoas com Deficiência(s) nas organizações, sobretudo em posições de liderança. Para reverter esse cenário, além da importância das políticas públicas, as empresas e instituições possuem um papel fundamental de mudança em relação a privilégios e preconceitos.
Nesse contexto, é possível equidade de oportunidades e meritocracia em uma mesma cultura organizacional? Neste artigo você entenderá mais sobre o que é a meritocracia e seu impacto na diversidade, equidade e inclusão.
O surgimento do termo ‘meritocracia’
O termo meritocracia teve origem no livro “The rise of the meritocracy” (A ascensão da meritocracia), publicado em 1958 pelo sociólogo e político Michael Young. A obra descreve uma sociedade do futuro, oprimida e distópica, que se baseia apenas em resultados lógicos de quociente de inteligência (QI). Como apenas pessoas com acesso a boas escolas conseguem se sair bem nesses testes, a meritocracia acabava por perpetuar o desequilíbrio social.
A intenção de Young era criticar o sistema educacional britânico de sua época, baseado em um modelo similar de testes de inteligência, que todas as crianças do país deveriam fazer em certas fases da vida escolar. A aprovação ou não nesses testes, em vigor no país até o fim da década de 1980, costumava ser determinante para o futuro profissional das crianças.
O que é a meritocracia?
De acordo com essa visão, a meritocracia é um modelo de progressão/ascensão social e econômica com base em qualidades pessoais. Na prática, a meritocracia premia o esforço individual, que se sobrepõe a fatores externos.
Essa visão pode ser bastante questionada, pois ignora o contexto social e cultural das pessoas, que podem se traduzir em vantagens ou desvantagens. E, ao ignorar o histórico das pessoas, a meritocracia serve apenas para reforçar desigualdades existentes.
A meritocracia falha também ao colocar na conta da pessoa a responsabilidade exclusiva por seus sucessos e fracassos, ignorando que estamos todos sujeitos a estruturas sociais maiores. Atualmente, a meritocracia está presente em grande parte da cultura de muitas empresas, organizações e instituições no Brasil.
Críticas à meritocracia
No livro Tirania do Mérito, Michel Sandal aborda a questão do mérito, comentando sobre como essa ideia é questionável, pois cada um parte de diferentes lugares na nossa jornada. Em outras palavras, a linha de saída para a vida tem obstáculos, principalmente, para pessoas que fazem parte de grupos historicamente minorizados, grupos estes que foram e ainda são privados de espaços de poder e de direitos.
Já Sidney Chalhoub, historiador da Unicamp e de Harvard, afirma que a meritocracia é um mito. Ela só faria sentido se a sociedade promovesse igualdade de oportunidades educacionais, econômicas e sociais. Não sendo esse o caso, é um jogo de cartas marcadas que ganha quem larga na frente.
A Meritocracia nas organizações
Uma pesquisa realizada em 2016, pelo Massachussets Institute of Technology (MIT), revelou que as organizações que usam a meritocracia apresentam maior chance de oferecer recompensas desiguais para pessoas com performance similar , mas de gênero, cor/raça ou origem social diferentes. O autor do estudo, o professor Emilio Castilla, analisou o desempenho de 9 mil funcionários de uma grande empresa da área de serviços.
A conclusão foi a de que as mulheres, grupos minorizados e pessoas estrangeiras tinham que trabalhar mais e obter resultado superior para conseguirem aumentos similares aos dos homens brancos nas mesmas condições. Em outra pesquisa complementar, Castilla concluiu que lideranças que usam a meritocracia pensam estarem decidindo de forma imparcial quando, na verdade, não estão.
A meritocracia e a diversidade
Em um ambiente que reforça recompensas baseadas em merecimento, lideranças tendem a se questionar menos sobre seus preconceitos, vieses inconscientes e visões de mundo
Neste caso, a ideia de meritocracia pode atrapalhar a diversidade de um local, uma vez que não há como pessoas menos favorecidas competirem com pessoas mais privilegiadas seguindo aspectos iguais.
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Qual a diferença entre Diversidade, Equidade, Igualdade e Inclusão?
O foco em DE&I
Para promover processos que, de fato, contratam e avaliam de forma justa as pessoas colaboradoras é preciso uma cultura da diversidade acima de critérios de meritocracia nas organizações.
A educação corporativa, por exemplo, pode ser uma importante ferramenta para criação de programas de ensino e oferta de incentivos.
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Ademais, mais do que simplesmente conferir a premiação a alguém, importa perceber o esforço de cada pessoa na medida de suas limitações. Mais do que a meritocracia, deve prevalecer a equidade.
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O treinamento aborda uma série de temas, como:
• Tirania do mérito – Michel Sandal – Harvard;
• Estratificações sociais e Modelos societários;
• Correntes filosóficas cristãs;
• História da riqueza do homem Leo Hubermam;
• Mudanças societárias – Da Aristocracia para Burguesia;
• Esforço, talento, empenho e escolhas?
• Michel Young – A ascensão da meritocracia de 1958;
• Estudos sobre mobilidade social;
• Meritocracia e o mercado corporativo;
• Sistemas de cotas.