Se ainda não somos hoje, em um futuro mais ou menos distante, todos nós seremos velhos. Contudo, às vezes parece que esquecemos esse fato ou que vivemos em negação. Ao tornar mais evidente a velhofobia existente na sociedade, a pandemia de Covid-19 mostrou exatamente isso: idosos não são apenas excluídos, mas também, para muitos, considerados descartáveis.
Trata-se de um grande paradoxo, afinal, como bem tenta abrir os nossos olhos a antropóloga Mirian Goldenberg, a velhice é a única categoria social a qual todos pertencemos ou pertenceremos em algum momento. Os preconceitos, estigmas e a discriminação proferidos e alimentados hoje, inevitavelmente, definirão o nosso futuro, de nossos filhos e netos.
Ainda assim, a velhofobia é uma realidade e traz consequências muito sérias para a população idosa. A exclusão do mercado e a precarização do trabalho é uma delas. Quantos colaboradores com mais de 60 anos têm na sua empresa? Em quais condições trabalham? O que fazem? Quanto ganham?
Ocorre que, como já acontece em outros países, o Brasil está envelhecendo. Segundo o IBGE, em 2010 o percentual de idosos no país era de 7,32%, enquanto a projeção para 2060 é que represente 25,5%. Hoje, também em função da crise, já temos muito mais idosos que são chefes de família e, logo, a saída do mercado de trabalho vem sendo cada vez mais adiada. Como será daqui a um tempo?
Precisamos olhar para a forma como tratamos as pessoas desse grupo e entender como inclui-las e possibilitar que envelheçam com dignidade — que, aliás, é o que todos queremos, não é mesmo?
O que é velhofobia? Como ela se manifesta?
O termo velhofobia é de fácil compreensão, e, por essa razão, muitos especialistas brasileiros preferem usá-lo no lugar de idadismo, gerontofobia, ageismo — palavras que têm a mesma definição, mas soam mais acadêmicas.
De qualquer forma, todas essas expressões se referem ao preconceito em relação às pessoas mais velhas e aos estigmas associados ao envelhecimento. Infelizmente, eles são muitos e estão bem enraizados na nossa cultura. Basta pensar no pânico que muitos de nós têm somente ao pensar em envelhecer. Aliás, você se reconhece ou se enxerga velho? Parece difícil, não é mesmo?
Isso se deve à visão rasa e equivocada de que o avançar da idade está relacionado apenas à doença, à inutilidade e à imobilidade. Mais do que em outros países, no Brasil, a velhofobia é bastante comum e permeia a nossa sociedade, que, de forma geral, considera os idosos incapazes e imprestáveis — ou seja, um fardo.
Além de gerar discriminação e preconceito, essa estigmatização acaba não só por excluir, mas também por invisibilizar as pessoas mais velhas – principalmente pela exclusão do mercado de trabalho. Assim, ao envelhecer, perde-se espaço em muitos lugares anteriormente ocupados e passa-se a viver à margem em diversos âmbitos sociais e econômicos.
Idosos e mercado de trabalho: precariedade e exclusão
Como podemos perceber, a velhofobia repercute de diversas formas. A exclusão e a precariedade dos idosos no mercado de trabalho é uma delas. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a partir de dados do PNAD, a informalidade aumentou nesse grupo nos últimos.
Em um cenário de crise — e em uma sociedade velhofóbica —, os idosos pertencentes às classes de menor renda ficam com os postos de trabalho mais precários e aqueles de maior poder aquisitivo são desligados de empregos formais e seguem para outros sem carteira assinada.
A importância da inclusão de pessoas mais velhas nas empresas
Logo, a inclusão de profissionais maduros nas empresas, além de ter uma grande importância para a quebra dos estigmas da velhofobia, tem um papel social e econômico muito importante.
Mas, em termos de benefícios para as organizações, é vantajoso apostar na inclusão de idosos no seu quadro de funcionários? Com certeza! Além de trazer mais diversidade ao ambiente de trabalho, profissionais mais velhos agregam conhecimento e experiência à equipe.
Estudos mostram, ainda, que características como perseverança e curiosidade são essenciais para aquisição de novas habilidades, mesmo depois de uma certa idade, como afirmam Josh Bersin e Tomas Chamorro-Premuzic, em um artigo publicado na Harvard Business Review. Os autores trazem também uma pesquisa da Deloitte que mostra que equipes formadas por diversas gerações se sentem mais seguras emocionalmente — o que faz todo sentido, afinal, a idade está associada à segurança e à sabedoria.
Como combater a velhofobia e contribuir para inclusão dos idosos
Portanto, é fundamental e urgente adicionar ao programa de diversidade e inclusão das organizações pessoas com idade avançada e realizar ações concretas nesse sentido. Contratar pessoas mais velhas é um bom começo, mas é preciso ir além.
Oferecer funções que possibilitam que elas contribuam com seus conhecimentos, assim como cargos de gestão, supervisão e mentoria é uma estratégia que valoriza os profissionais com mais de 60 anos, por exemplo. No entanto, também é muito importante trabalhar para mudar a mentalidade de gestores e colaboradores e combater a velhofobia no ambiente corporativo.
É direito de todos envelhecer com dignidade. Incluir idosos no mercado de trabalho significa contribuir para que envelheçam de forma ativa e produtiva. E, além disso, não podemos esquecer que é também o nosso futuro que está em jogo.