Há alguns anos, a agenda de novembro, em grande parte das organizações, contempla palestras e atividades ligadas ao Mês da Consciência Negra, o que é uma boa notícia, pois indica que o letramento racial está chegando ao mundo corporativo. Mas é hora de ir além e aprofundar este debate. É sobre isso que queremos conversar com você neste texto.
Como aprofundar o letramento racial nas organizações?
Como você sabe, o racismo no Brasil é uma discussão que esteve por muito tempo escondida, até poucas décadas atrás, quando uma série de intelectuais começou a discutir o tema de forma coletiva, sobretudo mulheres negras, como conta a médica e intelectual Jurema Werneck.
Como resultado, nos últimos anos, observamos o debate chegar ao dia a dia das organizações, redes sociais e conversas cotidianas. Temas como racismo estrutural ou o polêmico racismo reverso – que reforçamos, não existe – por exemplo, vêm sendo amplamente discutidos.
Mas o convite que fazemos agora é para que este debate seja aprofundado e contemple temas como branquitude, racismo algorítmico, afrofuturismo, entre outros. Nesta Plural, nos aprofundamos nos dois primeiros.
Branquitude
Discutir a branquitude – que não é antônimo de negritude, diga-se de passagem – é essencial em uma sociedade que busca se tornar antirracista. Como afirma a professora da USP Lilia Schwarcz, branquitude não é categoria de acusação, pelo contrário: “nós, pessoas brancas, nos acostumamos a não ter raça e a racializar os outros. Eu acho que é hora de nós nos racializarmos e, sobretudo, entendermos as consequências desse processo.”
Já nas palavras de Cida Bento, branquitude é um “pacto não verbalizado de preservação de um grupo nos melhores lugares sociais”.
Essa discussão é importante para que pessoas brancas ativamente reflitam sobre esse pacto não verbalizado de privilégios que acontece no dia a dia do ambiente corporativo.
Veja só um exemplo citado por Cida Bento. Recentemente, a liderança de uma grande corporação foi provocada a trazer mais diversidade ao seu quadro de prestadores de serviço. A reação surpreendeu: alegou que já tinha colaboradores de sua confiança e que alterações nesse contexto seriam complicadas.
Racismo algorítmico
Imagino que a Inteligência Artificial Generativa já faça parte do seu dia a dia. Embora recente, ela já reproduz racismo em seus algoritmos. Como afirma Tarcízio Silva, intelectual brasileiro referência no tema, “As tecnologias digitais possuem dualidades que podem pender para a opressão em sociedades marcadas pelas desigualdades.”
Em um teste do ano passado, uma deputada gerou um prompt para a IA generativa de imagens criar um personagem de mulher negra na favela ao estilo Pixar. O resultado chamou atenção: ele gerou uma imagem de uma pessoa segurando uma arma na mão. Não foi um caso isolado, IAs de diferentes marcas também reproduziram uma série de vieses inconscientes.
Este é um tema de última hora. Quem desenvolve IA precisa ser letrado para corrigir a programação dos algoritmos. Por outro lado, quem utiliza a IA deve ter um olhar atento para interpretar criticamente o conteúdo gerado.
Conheça as palestras da TREE para a Consciência Negra
Nosso time desenhou quatro palestras que vão do básico a temas mais aprofundados. Nossas palestras são ministradas por profissionais que têm sólida experiência acadêmica e de mercado. Saiba mais a seguir e agende uma conversa conosco.
Letramento Racial
A palestra explora raça, etnia, racialização, escravização, racismo no Brasil e resistência negra e indígena, além de oferecer dados sobre diversidade e terminologia correta para promover inclusão.
O Racismo e Suas Intersecções
A palestra discute o racismo global em suas formas individual, estrutural e institucional, abordando interseccionalidades, racismo contemporâneo, xenofobia, racismo algorítmico, e temas como epistemicídio e necropolítica.
Branquitude Crítica e Acrítica
A palestra explora branquitude, racialização, desumanização de negros, branqueamento, privilégio e meritocracia. Discute também a seletividade racial, eugenia, apropriação cultural e políticas afirmativas, destacando a importância da consciência racial crítica.
Antirracismo na Prática
A palestra aborda o racismo como questão social, discutindo racismo reverso, desigualdades no trabalho e a diferença entre discurso e prática. Explora políticas afirmativas, organizações antirracistas e o papel das pessoas brancas e lideranças aliadas na luta contra o racismo.