É verdade que já avançamos vários passos em relação à questão da diversidade e inclusão nos últimos tempos. No entanto, ainda existe muita estrada pela frente quando o assunto é mercado de trabalho, para todos os grupos de diversidade. Neste artigo, vamos falar sobre a inclusão das pessoas LGBT+.
As estatísticas de empregabilidade desse grupo demonstram a importância do debate sobre o tema, e não só isso. É urgente que as organizações coloquem em prática ações concretas para ajudar na transformação dessa realidade opressora que alimenta a vulnerabilidade e a violência.
Alguns importantes grupos empresariais são, hoje, referência mundial por agirem de acordo com uma cultura inclusiva e se engajar realmente com a causa. Além de obter retorno financeiro ao se tornarem diversas e inclusivas, essas organizações contribuem para a construção de uma sociedade mais igualitária.
Como é o cenário da inclusão LGBT+ no Brasil?
Privar qualquer grupo de iguais oportunidades e do acesso ao mercado de trabalho significa negar os seus direitos fundamentais à participação na sociedade como cidadãos. Mas, infelizmente, é exatamente o que ainda constatamos aos analisar os números relacionados à inclusão LGBT+ nas empresas.
Estima-se que existam aproximadamente 18 milhões de pessoas que fazem parte dessa comunidade no Brasil. No entanto, de acordo com o levantamento Demitindo Preconceitos, realizado pela Santo Caos em 14 estados do país, 38% das empresas mostram restrições para a contratação de homossexuais.
Além disso, no mesmo estudo, 40% dos entrevistados afirmaram já terem sofrido discriminação por sua orientação sexual no ambiente corporativo. O número vai ao encontro de outro percentual que revela muito sobre a invisibilidade LGBT+ no mercado de trabalho. Em uma pesquisa do Center Talent for Innovation, 61% dos profissionais disseram esconder de colegas e gestores a sua orientação sexual e/ou identidade de gênero.
A situação é mais complicada para pessoas trans, que nem sequer costumam ter acesso a oportunidades de trabalho formal. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% dessa população tem a prostituição como fonte de renda e possibilidade de subsistência.
Políticas de inclusão LGBT+ nas empresas ainda são incipientes
Em uma aprofundada investigação sobre o perfil social, racial e de gênero das 500 maiores corporações do Brasil, o Instituto Ethos encontrou dados que reiteram a gravidade do quadro da inclusão LBGT+ nas empresas nacionais.
Quanto às ações afirmativas voltadas à Diversidade e Inclusão (D&I) adotadas por essas organizações, apenas 19% afirmaram estar desenvolvendo alguma política visando à promoção da igualdade de oportunidades para o público LGBT+ entre seus funcionários.
Ademais, entre as menores proporções atingidas na análise, está a que se refere ao desenvolvimento de alguma ação com o objetivo de eliminar barreiras e preconceitos a essa comunidade nos processos de contratação: apenas 8,5% das companhias têm essa preocupação.
Quais são os desafios para inclusão LGBT+ nas empresas?
Existem, de fato, muitos desafios para a inclusão LGBT+ nas empresas. Esses obstáculos, evidentemente, são reflexo de como a sociedade, de forma geral, lida com a diversidade e a inclusão. Não é novidade, por exemplo, que a discriminação é uma das maiores dificuldades que o grupo enfrenta, e isso se repete no âmbito empresarial.
Os gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros são vítimas de preconceito já nos processos seletivos. Não são somente as pessoas trans a serem prejudicadas antes mesmo de demonstrarem suas competências, mas o caso delas é emblemático, já que raramente conseguem avançar em seleções de emprego e quase não estão presentes no mercado de trabalho formal.
A hostilidade não costuma ser muito diferente para os LGBT+ que ingressam no mundo corporativo. Grande parte trabalha em ambientes inseguros, enfrentando o comportamento inadequado de colegas e gestores. Embora a discriminação por identidade de gênero e/ou orientação sexual seja considerada crime, piadas, fofocas, exclusão e assédio moral ou físico fazem parte do dia a dia de muitas pessoas da comunidade LGBT+.
A resistência corporativa em conviver com as diferenças dificulta, portanto, não apenas a ascensão profissional, mas a própria permanência desses indivíduos no âmbito do trabalho. Por isso, não é à toa que muitos, quando podem, preferem mesmo esconder que fazem parte do grupo.
Como as empresas podem mudar essa realidade?
Atualmente, sabe-se que essa postura discriminatória de grupos de diversidade tem relação com os vieses implícitos. Trata-se de associações automáticas da nossa mente que resultam em suposições, julgamentos e atitudes preconceituosas em relação às outras pessoas.
No mercado de trabalho, esses vieses impactam o processo de gestão de pessoas — desde o recrutamento às promoções — e atravessam também as tomadas de decisão. O resultado é a desigualdade no acesso às oportunidades das minorias, entre elas, os gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros.
Para mudar essa realidade e promover a inclusão LGBT+ nas empresas, é preciso olhar para a questão com a seriedade que ela merece e conduzir ações concretas para atração, retenção e engajamento desses profissionais. Além disso, é fundamental focar no desenvolvimento do time sobre os vieses inconscientes, identidade de gênero e orientação sexual e comunicação inclusiva e não-violenta.
A valorização das diferenças é outra parte importante de uma política voltada à Diversidade e Inclusão. Com um conjunto de medidas, será possível construir um ambiente seguro (safe environment), respeitoso e inclusivo que possibilite que o profissional seja quem ele é não apenas fora, mas também dentro do âmbito corporativo.
A criação de um canal para que situações de preconceito sejam denunciadas e a preparação para o acolhimento e suporte dessas pessoas são iniciativas positivas e indispensáveis.
Os programas de inclusão LGBT+ nas empresas também devem incluir o engajamento da alta liderança e ações de incentivo ao desenvolvimento e a ascensão desses profissionais. Afinal, além de serem contratados e se sentirem seguros e incluídos, eles precisam de estímulos para desenvolver todo o seu potencial e ter oportunidades igualitárias de se tornarem protagonistas dentro da organização.
Por que investir em programas de D&I?
As companhias que são resistentes a promover medidas para incluir LGBT+ acabam perdendo profissionais capacitados que poderiam agregar muito aos negócios. Além, é claro, de demonstrarem ser contrárias a valores essenciais, como o respeito e o livre arbítrio.
Olhar com sensibilidade para as demandas sociais traz apenas benefícios e mostra que a empresa está em um patamar evoluído de gestão. O profissional que trabalha em uma organização preocupada com as demandas da inclusão LGBT+ nas empresas se sente, inevitavelmente, mais acolhido. E esse ambiente diverso e igualitário é um grande estímulo à criatividade e à inovação — itens considerados valiosos para o crescimento no mundo dos negócios.