A liberdade financeira permite que mulheres saiam de situações de dependência e adquiram autoconfiança ao tomarem as rédeas de suas economias.
Ainda hoje, falar da relação feminina com as finanças representa um tabu. Neste artigo te contamos mais sobre a relação das mulheres com o dinheiro e como desenvolver boas práticas para ter um bem-estar financeiro:
Um panorama da desigualdade financeira feminina
A independência das mulheres na gestão de seus próprios recursos financeiros é algo recente: em 1962, foi permitido o direito de trabalhar sem o consentimento dos maridos. Em 1974, as mulheres puderam obter cartões de crédito e, em 1977, adquiriram o direito ao divórcio. A Constituição de 1988 descreve as mulheres como ‘iguais’ aos homens. Embora sejam direitos adquiridos no século passado, o Brasil é um dos países com maior desigualdade salarial entre homens e mulheres – muitas ainda se mantêm em situações de dependência, deixando as finanças sob a responsabilidade de uma figura masculina.
59% das mulheres brasileiras estão endividadas
Segundo um levantamento realizado em 2020, 59% das mulheres brasileiras adultas, ou seja, entre 18 e 60 anos, estavam endividadas. Destas, 21% afirmaram que não tinham previsão de quando teriam condições de quitar a dívida; enquanto 38% disseram que estavam pagando os débitos.
O estudo também apontou que o maior desafio é o uso do cartão de crédito, que responde por 54% das dívidas das entrevistadas, seguido do crédito pessoal e cheque especial, que respondem ambos por 25% das dívidas das mulheres.
38 milhões de brasileiras lidam diariamente com dívidas
De acordo com o levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), de cada 10 devedores, seis são mulheres, o que significa mais de 38 milhões de brasileiras.
O estudo apontou que elas priorizam gastos como: contas de casa, como luz e água (57%), parcelas do cartão de crédito (48%), carnês e crediários (46%), contas de telefone (45%) e aluguel (22%).
Mulheres tendem a negociar mais suas dívidas
Elas podem ser mais endividadas, mas também são as que mais pagam seus débitos.
Segundo um estudo com mais de 5 milhões de renegociações, dois terços (66%) dos acordos realizados foram de mulheres. Os dados analisados levam em conta negociações feitas entre janeiro de 2020 e a primeira quinzena de fevereiro de 2021, período de pandemia, no qual o brasileiro mais se endividou.
De acordo com uma pesquisa realizada pela empresa Acordo Certo:
- 78% das mulheres afirma que não tem conseguido dormir direito por causa das dívidas;
- 74% afirma sofrer ansiedade por conta da atual situação financeira;
- 55% afirma sentir vergonha das dívidas; e
- 53% diz que tem vergonha de falar sobre sua situação financeira.
Segundo Tamires Fauoaz, líder do estudo, “em um cenário em que mais de 40% se declaram chefes de família, equilibrar dívidas, bem como o aumento nos gastos fixos tem sido um desafio não apenas para o bolso, mas também para a saúde mental”.
Esse fenômeno acomete mais mulheres, entre outras razões, pelo fato delas ganharem menos. Segundo o IBGE, em 2018 o salário médio das mulheres era de R$ 2.050, enquanto o dos homens era de R$ 2.579. Diferença que persiste mesmo quando as mulheres são mais instruídas, como acontece no setor financeiro, no qual elas ganham menos apesar de estudarem mais.
Os desafios da mulher no mercado de trabalho
Dentro das desigualdades salariais entre homens e mulheres, existem recortes que aprofundam essas diferenças, sendo estes:
Gênero
Para Carol Sandler, educadora financeira feminina, mesmo com os avanços nos direitos das mulheres, estes ainda não resultaram em uma independência financeira feminina, pois de acordo com IBGE de 2021, mulheres que exercem a mesma função que um homem ainda recebem salários com cerca de 77% a menos.
Racial
Um estudo do Insper com base na PNAD mostrou que em cinco profissões comparadas (engenheria/arquitetura, medicina, docência, administração e ciências sociais), em todas, as mulheres negras recebem menos do que homens brancos e negros e, também, em comparação às mulheres brancas.
Jornada dupla
A quantidade de horas dedicadas ao trabalho doméstico por mulheres chega a ser de 10 horas a mais que os homens. Segundo a Agência Brasil, em 2019, as mulheres dedicam aos cuidados de pessoas ou afazeres domésticos quase o dobro de tempo que os homens: mais de 21 horas semanais contra 11. E essa proporção não tem se alterado significativamente nos últimos anos.
Essa realidade piorou ainda mais com a pandemia.
Crenças
Um estudo do banco UBS mostrou que 93% das mulheres brasileiras acreditam que seus maridos entendem mais de investimentos do que elas. Isso faz com que muitas mulheres deleguem a responsabilidade sobre suas finanças.
O que é bem-estar financeiro?
Muitas mulheres desenvolvem suas carreiras sem pensar no seu desenvolvimento financeiro. Ao não saber lidar com o dinheiro, é possível que ocorra uma diminuição da autonomia financeira, dando espaço para a dependência e podendo ter impactos na saúde mental.
A TREE realizou um bate-papo com Valéria Meirelles que discutiu na prática a relação das mulheres com suas finanças. Confira:
Como dito no bate papo, bem estar é “um estado de estar no qual uma pessoa pode cumprir plenamente as suas obrigações financeiras atuais e contínuas, pode se sentir segura em relação ao seu futuro financeiro, e é capaz de fazer escolhas que lhe permite aproveitar a vida.”
O que fazer para mudar esse cenário?
Um primeiro passo para transformar esse cenário envolve uma análise pessoal a fim de entender a sua relação com o dinheiro. Algumas perguntas iniciais podem ajudar:
– Qual é seu custo mensal consigo mesma?
– Quais gastos você considera importante?
– Suas finanças te permitem pagar suas contas e realizar atividades prazerosas?
– O jeito que você aprendeu/herdou para a administração das contas está sendo útil?
– Qual é o significado do dinheiro para você?
Ao entender sua relação com o dinheiro, fica mais fácil de tomar as rédeas das finanças, adquirindo controle sobre suas contas e, consequentemente, tendo confiança para realizar seus objetivos.
O dinheiro precisa ser ressignificado pelas mulheres, pois representa uma forma de poder de escolha e de bancar suas próprias decisões.
A partir disso, será possível mudar um mercado financeiro que foi criado por homens e para homens.
Palestras temáticas para o Mês da Mulher na TREE
Em março acontece o Mês da Mulher, um mês de reflexões sobre igualdade de gênero. É um momento importante, no qual as organizações discutem de forma mais aprofundada o protagonismo feminino e o combate ao machismo.
Para auxiliar você no desenho das atividades do mês, a TREE disponibilizará dois conteúdos educacionais para o tema: anti-machismo na prática e Síndrome da Impostora.