O racismo é uma forma de preconceito que envolve a prática de discriminação contra pessoas ou grupos por causa de sua etnia ou cor. Embora envolva práticas, o racismo é estrutural, ou seja, está enraizado nos comportamentos e expressões sociais, culturais e institucionais da sociedade, estando muito presente no ambiente organizacional.
Dados do IBGE mostram que mais da metade (54%) da população brasileira é negra. Contudo, menos de 5% das trabalhadoras e trabalhadores negros ocupam cargos de gerência, enquanto a maioria exerce posições operacionais (47,6%) e técnicas (11,4%), segundo um levantamento do Vagas.com.
Nos últimos anos, o racismo está em evidente discussão e é visível o empenho das organizações para combatê-lo e criarem uma cultura verdadeiramente inclusiva. Apesar dos avanços nessa luta, o racismo e a discriminação racial continuam a se manifestar em desvantagem e desigualdade. Por isso, as empresas e organizações, sendo as principais agentes do mundo de trabalho, possuem papel chave na construção da diversidade e equidade racial.
Neste artigo, apresentamos um breve histórico sobre as causas do racismo e propomos ações sobre como combatê-lo nas empresas e organizações. Confira:
O Racismo no Brasil
O Brasil foi o último grande país ocidental a extinguir a escravidão, que aconteceu de maneira legal até a Lei Áurea de 1888. O processo de trabalho compulsório de pessoas negras e a abolição tardia – sem políticas públicas que assegurassem a reinserção da população negra, resultou em um sistema estruturalmente racista que perdura até hoje.
Apenas em 1989, foi sancionada a Lei nº 7716, que tipifica como crime qualquer manifestação, direta ou indireta, de segregação, exclusão e preconceito com motivação racial. Essa lei representa um importante passo na luta contra o preconceito racial e prevê penas de um a três anos de reclusão aos que cometerem crimes de ódio ou intolerância racial. É importante, entretanto, se atentar para o fato de que, judicialmente, poucos foram os casos de condenação concluídos no país.
Quais são as formas de racismo?
Como vimos, o racismo está ligado a uma crença de que existem raças ou tipos humanos superiores e inferiores. Segundo o professor universitário Silvio Almeida, o racismo se diferencia do preconceito e da discriminação racial, pois:
- O preconceito é entendido como a definição de um conceito sobre determinada pessoa ou grupo. Isso ocorre, por exemplo, na frase pejorativa “negros são mais violentos”, visto que ela pressupõe e conceitua que negros são violentos.
- A discriminação racial é entendida como dar tratamento diferenciado a alguém ou a um grupo em razão da raça. Um caso hipotético de discriminação étnico-racial seria proibir uma pessoa negra de frequentar determinado ambiente ou estabelecimento apenas por sua cor de pele.
- O racismo, por fim, é entendido como uma forma sistemática de discriminação, por meio de práticas conscientes ou inconscientes que resultam em desvantagens a determinado grupo racial.
Nesse sentido, o racismo engloba não apenas o preconceito e a discriminação, mas também todas as relações sociais, políticas, jurídicas e econômicas que desfavorecem uma pessoa ou grupo por conta de sua raça ou etnia.
Classificações do racismo:
O racismo pode ser classificado como preconceito e discriminação racial, racismo institucional e racismo estrutural. Confira abaixo as definições:
Preconceito e discriminação racial ou crime de ódio racial
Nessa forma direta de racismo, um indivíduo ou grupo manifesta-se de forma violenta física ou verbalmente contra outras pessoas ou grupos por conta da etnia, raça ou cor, bem como nega acesso a serviços básicos (ou não) e a locais pelos mesmos motivos.
Racismo institucional
De maneira menos direta, o racismo institucional é a manifestação de preconceito por parte de instituições públicas ou privadas, do Estado e das leis que, de forma indireta, promovem a exclusão ou o preconceito étnico-racial. Podemos tomar como exemplo as formas de abordagem de policiais à pessoas negras, que dados comprovam serem mais agressivas.
Racismo estrutural
De maneira ainda mais branda e por muito tempo imperceptível, essa forma de racismo tende a ser ainda mais perigosa por ser de difícil percepção. Trata-se de um conjunto de práticas, hábitos, situações e falas embutido em nossos costumes e que promove, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. Podemos tomar como exemplos duas situações:
- Acesso à educação superior
O número de pessoas jovens negras que tinham acesso ao ensino superior um ano após a lei de cotas era de 5,5%. Dez anos depois, em 2015, 12,8% das pessoas negras entre 18 e 24 anos chegaram ao nível superior.
- Falas e hábitos do cotidiano
Essa forma de racismo manifesta-se quando usamos expressões racistas, mesmo que por desconhecimento de sua origem, como a palavra “denegrir”. Também acontece quando fazemos piadas que associam pessoas negras a situações vexatórias, degradantes ou criminosas ou quando desconfia-se da índole de alguém por sua cor de pele.
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Ações para combater o racismo nas organizações
Mesmo com a inclusão social ao longo dos últimos anos, o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo; e essa desigualdade é causada, entre outros fatores, pelo racismo.
Para combatê-lo nas empresas, iniciativas podem ser criadas a fim de estimular a promoção da equidade racial nas equipes, além de políticas de tolerância zero ao racismo. Por isso, levantamos algumas sugestões de boas práticas para você implementar em sua organização:
- Engajamento das lideranças
Em primeiro lugar, as lideranças das empresas devem reconhecer a importância das práticas de inclusão racial para o crescimento, relevância e potencial criativo do negócio. Após esse entendimento é preciso se engajar de fato em prol da diversidade e da inclusão.
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- Educação Antirracista
Diversidade, Equidade e Inclusão deve ser um pilar importante na educação corporativa. E, dentro da temática de inclusão racial, deve-se envolver todo o time em programas de sensibilização e informação.
- Programas de empregabilidade
É papel do RH criar, alinhado às áreas do negócio, novas oportunidades de contratação, além de ampliar a participação de pessoas negras nos processos seletivos. A organização deve também trabalhar a retenção e o desenvolvimento da equipe com treinamentos e mentorias, abordando temas como empatia, diversidade, equidade, inclusão e letramento racial.
Além de ter um time diverso, é importante que todos entendam a importância de incluir realmente pessoas negras na organização e consigam ver as ações refletidas na prática. A Magazine Luiza é um exemplo de organização que realizou um programa de contratação intencionada exclusivo para pessoas negras.
- Divulgação de políticas e práticas
A empresa deve comunicar claramente quais são suas políticas de inclusão, estabelecendo condutas de comunicação interna e linguagem.
Com ferramentas como cartilhas e treinamentos, pode-se incluir termos considerados preconceituosos e determinar boas práticas para uma comunicação inclusiva e não-violenta. Desta maneira, fica claro para todas as pessoas colaboradoras que o racismo é um comportamento não tolerado na organização.
- Criação de grupos de afinidade
É uma ação de representatividade, que traz insumos para a implementação de projetos realmente diversos, criados de forma participativa com pessoas que fazem parte desses grupos.
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Os grupos de afinidade ou comitês de diversidade têm sido instrumentos importantes para que muitas organizações descentralizem as ações de Diversidade, Equidade e Inclusão, permitindo que elas ganhem alcance e força para promover a transformação de cultura.
- Possuir metas e indicadores de desigualdade racial
Assim como os objetivos e ações da organização possuem metas, o combate ao racismo também deve possuir metas, indicadores e prazos.
Um exemplo de meta pode ser dobrar o número de pessoas negras em cargos administrativos ou oferecer incentivos para as pessoas colaboradoras que não conseguiram alcançar a escolaridade de nível superior.
- Estabelecer um código de conduta
O código de ética e conduta é ferramenta guia para advertir, punir ou até mesmo desligar pessoas colaboradoras da organização por conta de comportamentos racistas.
Paralelamente, é importante que exista um canal de denúncias anônimas para que as vítimas possam se sentir à vontade para relatar casos sofridos.
Na TREE, nós acreditamos que a diversidade, equidade e a inclusão são essenciais na identidade das organizações que vão fazer alguma diferença no futuro, potencializando a sociedade e criando marcas com propósitos genuínos. Conheça mais sobre o nosso trabalho.